Wednesday, November 11, 2009

O disco

A poeira se acumula na minha prateleira. Meus discos possuem uma nova capa com a sujeira que cresce a cada dia. Este é um retrato simétrico ao que acontece com o mercado fonográfico atual. Os discos estão esquecidos. As razões são: as tecnologias de compartilhamento de arquivos e os preços abusivos que induzem a primeira razão.

Lembro que comprar um disco era o evento da semana. Juntar dinheiro por dias a fio, ir à loja namorar o álbum pretendido, escondê-lo das outras pessoas e, finalmente, exercer o poder de compra. Era uma experiência singular. Quando chegava em casa, eu cumpria sempre o mesmo ritual. Trancava as portas do quarto, ligava o som, contemplava o encarte e me deixava sorver a música. Um momento mágico – sinestésico – ao ver cores, formas e imagens brotando das notas musicais.

Com o tempo, isso se perdeu. Quem perde tempo ouvindo um disco? Vivemos o tempo do tudo ao mesmo tempo agora. De uma nova realidade que nos impõe várias tarefas simultaneamente. A sensação é o que tempo ficou mais curto para as coisas que nos davam prazer. Assim, a música passa por um momento de afirmação. Se antes ouvíamos música por prazer, hoje ouvimos para nos acompanhar em não sei quantas tarefas ao mesmo tempo. Eu, por exemplo, escrevo este texto, leio os jornais digitais, respondo e-mails e ouço música. Talvez para dar foco, mas creio que seja apenas uma forma de me separar da confusão que é a vida. É bom estar só com os pensamentos, não se preocupar com o que está a sua volta.

Outra preocupação do disco é com seu conteúdo. Até o fim dos anos 90, o disco representava um determinado período criativo para o artista. Estava ali, por uma dúzia de canções, uma realidade amarrada através da música, que o ouvinte escolhia como trilha sonora para a semana. Hoje isso não existe. Os artistas se preocupam em fazer uma ou duas canções. A rapidez do download criou uma massa de ouvintes mais seletiva. Se um disco possui apenas uma música boa, o resto é descartável. A música se transformou num sistema de fast-food. A qualidade e a criatividade se perderam no caminho, o que importa é saciar a vontade da população com melodias pobres e facilmente esquecidas.

Sinto saudades dos tempos que comprava discos. Eu era feliz e não sabia. Engraçado é que se der vontade de comprar um, eu não terei aonde ir. Natal não possui lojas de discos. Todas sucumbiram com o avanço tecnológico e a falta de preparo administrativo. O que nos resta são os sebos. Talvez eu passe por um hoje, talvez.

1 comment:

Maciel Queiroz said...

Realmente, Jalmir!

Bons tempos quando podíamos escutar e apreciar um bom disco. Tempos bons que não voltam.

Belo post!