Thursday, December 03, 2009

Natal e o complexo de Narciso

A lenda de grega de Narciso narra a história de um jovem com grande beleza – comparável aos deuses -, no entanto, a sua beleza o levou a ruína. O jovem morre por ficar embevecido com sua imagem refletida nas águas de um rio. O psicanalista Sigmund Freud, em seus estudos da psique humana, descreve que o ato de contemplar demasiadamente a própria beleza e de alimentar uma extremada defesa do ego é chamado de narcisismo. No entanto, o que Natal tem a ver com isso? O complexo de Narciso é algo inato a população da cidade. Talvez seja algo genético, talvez a água com nitrato da companhia de água e esgotos, talvez seja o clima – melhor ar da América latina -, não sei realmente o que é, mas é algo risível e, mesmo triste, ver as pessoas de Natal orgulhosas com as suas pequenezas. Estas pessoas amam defender a sua inanição intelectual.


Um dos mais famosos lemas socráticos conta: "Conhece-te a ti mesmo". Tomando por base a tarefa de descrever o "bairrismo na população natalense", eu fui atrás de depoimentos que me dessem essa certeza: somos totalmente ignorantes em relação a nossa ignorância.


Primeiramente, comecei estudando a célula-base da sociedade – a família. Não precisei pesquisar muito. Meus pais já me deram respostas suficientes. Só fazem compras de gêneros alimentícios em estabelecimentos gerenciados por "pessoas da terra". Ambos são funcionários públicos, sempre defendem os políticos locais, pois sem eles, os políticos, o emprego dos dois não existiria. Somente se informam através dos telejornais locais, e sempre se manifestam contra a vinda de empresas estrangeiras ou de outros estados para Natal.


Sempre me incomodou a obrigação de "louvar ou saudar" os frutos da terra. Culturalmente falando, qual a grande manifestação cultural natalense? Falácias. Sim, mas se houver algo que atinja relativamente grande parte da nossa população, então que o que escrevi caia no esquecimento. Não tenho a pachorra de afirmar que Natal é uma cidade pobre culturalmente falando. E isso é tão importante quanto às questões de saúde e educação; a cultura é um mecanismo de libertação e criação de análise crítica da sociedade.


Como aluno do curso de jornalismo, eu me sinto incomodado pelo nível de boçalidade que alguns membros da turma demonstram. Isso é reflexo das relações sociais que estabelecem ao longo da vida. Somos pessoas medíocres (eu incluso) narcisistas. Amamos nossa pobreza intelectual. Assim, algo se fortalece em meio a isso – um establishment de mediocridade plena. Forma-se uma massa incorruptível e impossível de escapar. Quem não se adéqua ao establishment fica alijado e longe de tudo. Conversa de perdedor? Talvez, mas é isso que a choldra medíocre nos força a crer.


Defender os próprios interesses não é errado. Elogiar e prestigiar a cultura, a política e economia não é algo errado - quando for necessário. Mas será necessário alimentar um sentimento ufanista e, ao mesmo tempo, alienador? Será necessário este separatismo regional que impomos a nossa realidade? Saiamos da zona de conforto. Que rompemos com a bolha de mediocridade falaciosa que nos cerca. Estamos numa realidade em que a informação é o bem mais importante e mais valioso. Este é um novo mundo totalmente conectado e liberto das amarras da ignorância.


Sonho com uma nova realidade para nós, natalenses. Um dia não mais seguiremos as normas cabais da frivolidade; não mais concordaremos com os políticos e suas famigeradas promessas televisionadas; não mais louvaremos o que achamos ruim, temos de ter um senso crítico mais verdadeiro; não mais concordaremos com alguém que esteja errado, apenas para defender nossos interesses. Por fim, que sejamos mais responsáveis por nossas vidas.

1 comment:

Mariana said...

Concordo contigo. Sou pernambucana e morei em Natal por 9 anos. Se me perguntarem quantos amigos ''naturais da terra'' eu tenho, posso te responder: NENHUM. Eu e minha família só conseguimos fazer amizades com gente de outros Estados que também moravam em Natal, pois passavam pela mesma situação:SOLIDÃO.Somos todos excluídos em Natal, basta não se encaixar no perfil de sociedade natalense! Muitas vezes eu ouvia: " Os incomodados que se mudem!" Pois bem, me mudei: hoje moro no Rio Grande do Sul, em 1 ano conquistei amizades de uma vida inteira, coisa que nunca senti em Natal.